Angela Ferrara : Uma carta do Brasil [39]

Uma carta do Brasil : Houve um tempo de muita depressão e eu quis experimentar a morte, um tempo acompanhado de pesadelos e pavores noturnos. Em um de meus pesadelos eu havia conseguido passar para o mundo dos mortos, mas minha angustia continuava, sentia me como “Agnes” do filme de Ingmar  Bergman. Acordei aliviada por estar viva e decidi me dar uma segunda chance, busquei ajuda em sabedorias milenares e aprendi de alguma forma que a morte é uma extensão da vida, que as fugas nos levam ao caminho inicial e que atalhos não existem. Três anos depois, recebo da artista Vera Goulart um e-mail sobre a exposição chamada “A Book About Death,”senti uma atração imediata pelo tema e entrei em contato com Matthew Rose, eu imaginava que além da homenagem a Ray Johnson, haveria um motivo muito forte para essa realização....

Um pouco depois eu ví uma colagem feita por Matthew Rose, havia uma mulher linda, do tipo das antigas atrizes de hollywood sentada em uma prancha, pronta para saltar para o desconhecido, em baixo estava escrito Doris Rose (1925-2009).

“A Book About Death” também possui um caráter de manifesto contra a violência mundial, representado pelo rosto de uma jovem em Tehran. Acompanhei os trabalhos que estavam sendo enviados, cada um com uma impressão muito forte de cada artista, consegui ver as varias faces da morte, a face cômica dos trabalhos de Rob White, a morte cravada no peito como nos trabalhos de Ria Vanden Eynde, que exorciza suas dores como Frida Kalo. O trabalho de Sarah Clayton me fez pensar na proximidade da morte e do sono profundo.



A sutileza gráfica de Branka Djordjevic mostra a fragilidade da vida. Jane Wang me fez ver a linha tenue entre depressão e morte. O coelhinho de pelúcia de Patti Singer sugere que a morte não poupa crianças. Talvez a morte seja a fusão no outro como em Betty Esperanza. Como a antiga musica os mortos podem dançar em Keith Buchholz. Mark Bloch expressa todo seu talento fluxus na interpretação da morte. Bibiana Padilla consagrou a visão do cemitério. O belo sofá vazio de Sonja Benskin demonstra saudade de alguém. Eva Brunner me transportou as cenas de Eugène Atget em Paris. O lindo palimpsesto cheio de nuances do tempo de William Evertson. A morte projetada no tempo como em Louise Weinberg. Também me chamou a atenção o trabalho de Yoko Ono, onde as árvores nasciam em cima de caixões de madeira, isso me remeteu as lendas indígenas brasileiras. Cada artista em sua singularidade mostrou uma visão única que enriqueceu o todo. Gostaria muito de falar da riqueza estética de cada um dos quase quinhentos trabalhos, mesmo não sendo possível expresso minha total admiração e gratidão por cada um deles. Finalmente em meu trabalho eu quis expressar a crença em algo além da vida, algo como este projeto que mesmo tendo sido programado para “morrer” insiste em viver, em ganhar o mundo.

Resumo sobre a vida de “A Book About Death” (Um Livro Sobre a Morte) A mostra “A Book About Death” idealizada e organizada pelo artista Matthew Rose (norte-americano que vive e trabalha em Paris) foi realizada em setembro na Emily Harvey Gallery em NY, EUA. Matthew Rose convidou quase 500 artistas de todo o mundo para participarem da mostra de mailarts em homenagem a Ray Jonhson, muitos dos artistas são envolvidos com o movimento Fluxus como Yoko Ono.

Cada artista colaborou com 500 cartões, que durante a mostra poderiam ser escolhidos pelos visitantes para fazerem o seu próprio livro sobre a morte. Artistas partilharam suas visões sobre a Morte e a morte foi vista por diversos ângulos. A exposição havia sido programada inicialmente para “morrer” quando todos os cartões acabassem… Mas antes que isso acontecesse “Um Livro Sobre a Morte” adquiriu vida e uma artista envolvida com o projeto “Jane Wang” levou a exposição para Boston no The MOBIUS Gallery, enquanto isso o MOMA, Museu de Arte Moderna de Nova York mostrou interesse e está adquirindo a coleção para seu acervo permanente. Como se não bastasse a pós-vida do “Um Livro Sobre a Morte,” uma outra integrante do grupo Mara Thompson com a ajuda de Bibiana Padilha levou a Mostra para a Otis College of Art and Design de Los Angeles. Em Los Angeles também o “Livro” esta sendo adquirido pelo Los Angeles County Museum of Art Research Library, Los Angeles. Também foi para The River Mill Art Gallery em New Jersey e já está marcado para iniciar outra mostra no dia dos mortos no Queens Art Museum em Queens, New York, graças a outra integrante do grupo Louise Weinberg. Todo o mérito a Matthew Rose que do Facebook coordena todos os artistas engajados neste projeto, e mérito também dos artistas por manterem o idealismo “Paz e Amor” típico dos anos 60 bem vivo em tempos difíceis. Digo idealismo porque os artistas do grupo ainda se correspondem freneticamente por MailArt mantendo a essência da mostra “A Book About Death” em homenagem a Ray Johnson! Já estão sendo organizadas exposições em Montreal, Ciudad de México, Berlim e possivelmente São Paulo.

(Foto: Angela Ferrara, in her studio, São Paulo, Brazil).

O Fotografo francês Ari Rossner, amigo de Matthew Rose está em São Paulo para verificar a possibilidade de expor “A Book About Death” na cidade. Se alguma Galeria ou Museu de São Paulo tiver o interesse em expor este projeto tão original, por favor entre em contato.

Aguardamos as próximas atrações de Um Livro Sobre a Morte – A Book About Death….

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– Angela Ferrara [http://angelaferrara.com/]